sábado, agosto 19, 2006

Prescrição de medicação, sim ou não?

Ainda referente ao II Congresso da Ordem dos Enfermeiros "Uma das questões que foi levantada no decurso do primeiro painel – e que motivou um extenso debate entre os congressistas – foi a possibilidade de os enfermeiros passarem a prescrever determinados medicamentos, seguindo o exemplo dado pelo Reino Unido."

Na minha modesta opinião nem se devia colocar esta hipótese.
Do que vivencio diariamente o tempo escasseia para o cumprimento daquelas que são as nossas funções, devendo ser esta a nossa principal preocupação, cumpri-las com rigor, competência, promover condições para que sejam prestadas atempadamente, bem fundamentadas, de forma reflectida e com qualidade.
Para que possamos prescrever um paracetamol, não temos somente que ter conhecimentos sobre os efeitos, indicações, contra-indicações e interacções deste medicamento, temos que conhecer todos os outros medicamentos que o doente toma, história da sua doença actual, fisiopatologia dos órgãos, antecedentes pessoais, etc, etc, etc, não fazendo alguns destes conceitos parte da nossa formação base.
Contudo, é nossa função estar atento a sinais e sintomas manifestados pelo doente e promover todas as acções que permitam melhoria na sua qualidade de vida, o que requer por vezes grande persistência, exigentes provas de esforço e alguns "desaforos" que valem a pena se cumprirmos o nosso objectivo, ajudar aqueles que dos nossos cuidados carecem. Seria muitas vezes mais fácil "simplesmente" prescrever, mas não queremos o mais fácil mas sim o que é melhor e mais correcto. Poderá ser facilitador a existência de protocolos, sobretudo para situações que se prevê a ocorrência de determinada sintomatologia ou o seu agravamento.

3 Comments:

At 5:32 da tarde, Blogger Enfermeira said...

Obrigada jlisboa, concordo plenamente.
Também vivencio essa situação dos pensos e o pior é quando estamos perante aqueles médicos que para não perderem o seu "acto médico" de prescrever querem decidir o material de pensos e depois é só "arguladas"!
Felizmente que já há muito que não oiço falar de Soluto de Dakin, mas foi uma tarefa difícil.

 
At 1:46 da manhã, Anonymous Anónimo said...

A colega disse:
"Para que possamos prescrever um paracetamol, não temos somente que ter conhecimentos sobre os efeitos, indicações, contra-indicações e interacções deste medicamento, temos que conhecer todos os outros medicamentos que o doente toma, história da sua doença actual, fisiopatologia dos órgãos, antecedentes pessoais, etc, etc, etc, não fazendo alguns destes conceitos parte da nossa formação base."

Bem na minha opinião não compreendo como quando esta a cuidar de um doente não presta atenção a todos esses pormenores! É da nossa competencia saber quando ocorre o efeito secundario do medicamento X que estamos a administrar.
Não tenho estado muito a par do que de novo o II congresso da ordem dos enfermeiros trouxe! Da minha pratica acho que em muitas circunstancias era uma mais valia poder faze-lo, estou a falar por exemplo no contexto dos cuidados paliativos ou de terapeutica de dor cronica, mas a muitas outras areas se poderia extender essas hipoteses. No entanto penso que é dificil mudar mentalidades, temos licenciatura que nada de novo nos trouxe, continuamos a fazer o que sempre fizemos e até nos revoltamos com a possibilidade de existir um grupo profissional que nos tire trabalho das costas e deixe tempo para exercer as funções para as quais supostamente recebemos formação!

 
At 3:39 da tarde, Blogger Enfermeira said...

Infelizmente, quando estou perante um doente não tenho possibilidade de aceder ao seu processo completo. Como por ex. aceder aos exames complementares, para os quais admito não ter conhecimentos suficientes para a sua interpretação completa. Ou seja, admito sem qualquer problema, que não sei fazer uma leitura de um TAC a não ser que seja muito obvio o problema, mas por isso é que existem técnicos especializados. Tal como um ECG, poderei perceber que um traçado foge da normalidade mas com isso não sei identificar qual é o problema, para isso existem técnicos especializados.
Se de facto tivéssemos estas competências todas, só havia necessidade de existirem enfermeiros.
Gostaria de deixar claro que é com muita alegria que recebo as opiniões de todos e é para isso que este blog existe, não sou perfeita e sei aceitar os meus erros, por isso todas as críticas construtivas são muito bem vindas.
Mas não quero que entremos em comentários críticos do género: "não compreendo como quando esta a cuidar de um doente não presta atenção a todos esses pormenores", há maneiras mais delicadas e simpáticas de deixar a nossa opinião.
Quanto à terapêutica da dor crónica e no contexto dos cuidados paliativos estou de pleno acordo com a aplicação de protocolos, ou seja não estamos a prescrever nada nem a "inventar" estamos a seguir um esquema preconizado o mais correcto para a avaliação que fazemos. Aqui sim o nosso papel é muito importante e tem de ser como em todas as funções muito correctivo, a avaliação da situação.

 

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